Tuesday, November 21, 2006

ALFA - II

Crates então olhou atentamente os meninos. Parecia admirar a quantidade de crianças que haviam ali este ano e apontou para três dos homens que o cercavam. Um alto e moreno, e os outros dois mais baixos e loiros, mas os três tão fortes quanto Crates parecia ser. Alceu observava tão curioso que esquecera de chorar, apenas fungava de vez em quando. O mesmo acontecera a outros meninos. Crates então gritou:
- Dividiremos vocês em três enomotiai, jovens espartanos. O primeiro grupo (e caminhou entre as crianças separando as que deveriam pertencer ao primeiro grupo) terá como paidomonos Telámon.

Telámon adiantou-se. Era um homem loiro. Não muito alto. Trajava uma armadura completa, com uma capa negra que a escondia e mais um dardo nas suas costas e um espada curta, presa a cintura. Crates continuou. Tocou o ombro de várias crianças, inclusive Heleno, Alceu e o jovem choroso e indicou-lhes como professor Artemidoro, o único moreno do trio de professores que estava ao seu lado. Este usava apenas uma armadura de bronze, decorada com ferro no peito com um leão alado que parecia rugir na alma das crianças. O terceiro grupo Crates outorgou a Zetos.
Cada grupo definido, os professores ordenaram que as crianças os seguissem. Telámon e Zetos chamaram suas crianças e cada um encaminhou-se para um lado do acampamento. Artemidoro nem precisou abrir a boca. Ele desceu a colina em silêncio, Heleno o seguiu e todos os outros seguiram Heleno. Alceu manteve-se no meio do grupo, protegido do vento frio que a primavera na Hélade não detinha, e sua tristeza começava a dar lugar a uma excitação. Ele estava curioso com o que aconteceria agora. As crianças caminharam um pouco, até chegarem a um acampamento. Um mar de cabanas baixas, cobertas por peles de cabra, todas estranhamente feitas com pedaços de pinho que davam aquele acampamento um cheiro próprio. E um nome também: Pítus.
Jovens adolescentes os esperavam então. Traziam chicotes na cintura e Alceu advinhou que eram Irenais. Distribuíram-lhes escudos e espadas de madeira. Outros dois anotavam seus nomes. Ganharam também um copo e um prato, que foram avisados que não deveriam perder, pois não receberiam outro. Foram avisados que cuidassem bem das roupas que trouxeram, porque seriam as únicas que usaria durante todo aquele ano. Nesta hora, Alceu entendeu porque sua ama tinha dado a ele um manto tão grosso apesar de ser primavera, e agradeceu-lhe secretamente. E indicaram onde cada jovem deveria dormir. Pela lista que estava com outro adolescente. Cada barraca cabia duas crianças. Alceu entrou numa das primeiras. Deixou suas coisas junto à entrada, e experimentou o monte de palha que servir-lhe-ia de cama, e logo outro menino pôs a cabeça para dentro da barraca Ele tinha cachos castanhos, olhar curioso e que não conseguia parar de falar um segundo:
- Eu te conheço de algum lugar não? Você costumava sair de casa com teu pai? Eu sempre andava com meu pai, meus tios e meus irmãos!
Alceu respondeu que não. E ele se jogou em outro monte de feno. Guardou suas coisas acima da própria cabeça e continuou a tagarelar.
- Meu pai também me pagou um pedagogo ateniense. Era engraçado. Mas eu sei ler, você sabe? Ah, como é teu nome? Se quiser eu posso escrever teu nome. Mas não tem papel né? Ah, mas eu escrevo aqui no chão mesmo. Como é teu nome?
Gaguejando, Alceu respondeu.
O menino então repetiu e continuou falando.
- Escreve assim ó. – e riscou o chão de areia com o dedo - O meu nome é Clício. Escreve diferente do seu sabia? Gosto de escrever, é legal. Tem gente que diz que é meio como mágica. Meus irmãos também sabem escrever! Polinikes e Hipólito, conhece eles? Meu pai disse que é muito bom saber escrever, isso às vezes salva a vida da gente, ele disse. Meu pai.
E falou mais. Falou da família dele toda. Dos escravos de sua casa, e como brincava com os filhos dos escravos de sua mãe. E enquanto contava essas estórias, sempre pedindo a opinião de Alceu, mas esquecendo-se de ouví-las, tocou-se um clarim. Os adolescentes chamaram as crianças, dizendo que eles trouxessem sua espada e seu escudo. Todos saíram e esperaram na frente de suas cabanas, e logo seguiam os adolescentes até um espaçoso campo.
O cheiro de suor foi a primeira coisa que Alceu sentiu ao chegar. Logo seus olhos alcançaram uma vasta campina, salpicada de pedras e ladeada a direita por um denso bosque. Dali era possível ainda enxergar a sombra da acrópole da cidade e por um instante o coração de Alceu apertou de saudade de casa. Ele pensou quando retornaria a sua casa e veria novamente seus brinquedos. Mas logo ele sentiu o peso de sua espada de madeira e do seu escudo de couro de cabra. O peso de sua nova realidade. Ele reparou novamente no campo. Na grama pisada constantemente pelos meninos, um grupo de adolescente que treinava luta livre no ponto mais distante; próximo ao bosque, crianças mais velhas treinando arco-e-flecha; em outro ponto ele avistou o professor Telêmaco cuidando de seus alunos. Ele então ouviu um adolescente.
- Levantem a espada e o escudo sobre suas cabeças, e corram!
Os meninos não desobedeceram. Nenhum. E eles correram toda a tarde. Sem descanso.

1 comentários:

| D! 10:35 PM  

Quer spa melhor Que este treinamento em esparta? Duvido.. Sorrisos..
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je pensou Aqueles abdomens talhados a mão.. aff..
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Coisa de Louco.. Adoro esta estória! beijos

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