Saturday, November 25, 2006

ALFA - III

Assim era a vida no acampamento. Todos os dias eles acordavam quando Hélios se erguia. Junto com os Irenai de Artemidoro, as crianças faziam seus exercícios até que o professor chegava e iniciava sua preleção. Escolhia alguns meninos, e os colocava para lutar. Heleno foi o primeiro desta preleção. Mas Alceu não se surpreendeu. A postura de Heleno diante das outras crianças, seus cabelos luminosos e olhos faiscantes, faziam com que ele se destacasse facilmente em meio aquelas crianças elameadas nos treinos. Artemidoro o chamou. Mediu-o com os olhos e chamou um dos Irenai que estava com uma cunha e um pedaço de madeira com um menear de cabeça. O menino que não deveria ter mais de 18 anos aproximou-se e falou algo com Heleno, Alceu não pode ouvir o que fora mais imaginou que ele perguntara seu nome, pois logo após o rapaz anotara algo.
Heleno ficou então na frente de Artemidoro, e este chamou outro menino do grupo. Tinha o mesmo corpo de Heleno, porém não a mesma energia. Os braços frouxos pelo medo não sustentavam a espada de madeira. Os olhos não encontravam o de Heleno, muito menos os do seu professor. Quando Artemidoro ordenou que batalhassem, Heleno partiu e o menino protegeu-se. Rápido largou a espada e fiou-se no escudo. Heleno parou, olhou firmemente para o menino e gritou:
- Não lutarei se estiveres desarmado. Pega tua arma!
Artemidoro esboçou um sorriso que só Alceu percebeu.
- Tresante! Algum garoto gritou.
Artemidoro então se ergueu, e os gritos que se preparavam para acompanhar o pior xingamento que se podia ouvir entre os guerreiros espartanos, "covarde", foram contidos pela figura enérgica do paidomonos. O menino de braços frouxos abaixou-se e pegou a arma. Heleno esperou ele erguer-se e posicionar-se. Apenas aí atacou. Seus músculos de menino enrijeceram-se e ele deixou a espada cair. O menino posicionou bem o seu escudo e, ao contrário do que devia, não tentou contra-atacar. Os Irenai próximos a Alceu comentaram isto, e este passou a prestar atenção. Heleno atacou novamente, e sua espada de madeira vibrou, quase quebrando contra o escudo do menino.
- Luta! Incentivou Heleno.
- Parece até um escravo de tão medroso. Gritou alguém entre os estudantes.
Notou-se uma raiva que surgiu no âmago do menino que enrijeceu-lhe as carnes. Ele então se lançou protegido pelo escudo em cima de Heleno. O escudo bateu no peito de Heleno, e abalou-lhe o equilíbrio, e antes deste recuperar-se, a espada, que o menino catara num relance, atingiu-lhe a orelha. Heleno caiu. Zonzo. Com o ouvido zumbindo. Os meninos explodiram em vivas. Alceu mesmo. Não por antipatia a Heleno, mas porque todos se identificavam mais com aquele menino medroso. Heleno ergueu-se de um pulo. E como seu peplo, sujo de pó, seu orgulho também estava manchado. Mas ele manteve-se calmo, e atacou. Largou seu escudo, e lançou-se sobre a espada do menino. Concentrava-se nela, e logo as carnes do menino fraquejaram novamente e ele não pôde mais erguer sua espada. Caiu então sentado e Heleno apontou-lhe a espada para o pescoço. E, por fim, olhou para Artemidoro. Este, comentou algo com o garoto que escrevia algo ao seu lado e este menino falou alto:
- Heleno venceu!
Vivas explodiram. Meninos correram para perto do vencedor. Todos correram. Artemidoro saiu calado, acompanhado de três adolescentes, envolvendo um deles com seu braço, aquele que se passava por seu secretário. Os meninos gritavam até que um Irenai ordenou que eles fossem à cantina, participar da phidita, sua refeição em comum. Desde este dia, Alceu só pensava no dia em que seria escolhido para lutar diante de Artemidoro. Ele não se importava em se sair mal diante de sua turma de alunos, mas em se sair bem diante de seu professor.

1 comentários:

Anonymous 1:20 PM  

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