Thursday, December 07, 2006

BETA - I

Iolau não queria ir. Ele sabia o que o esperava. Ele trancou-se no seu quarto. Sua tia Alyssa implorava que ele abrisse a porta. Ela dizia que era o momento de ir. Não haveria chance de continuar em casa.

- Será melhor pra você, ratinho. Eu prometo.

Iolau, porém, continuava duvidando. Ele olhava em torno de si. Sentia a pedra dura e gelada contra suas magras carnes. O chão e a parede ele pensava. Foi quando repentinamente a voz de sua tia se calou. Ele aguçou os ouvidos para descobrir o que acontecia e uma perna atravessou a porta sólida do quarto, arrebentando-a. Era seu irmão. Iolau. Como ele. Pegou-lhe pelo braço magro e ergueu-o.

- Cansei de esperar menino. Papai já está no carro esperando. Respeite a idade dele.

Iolau tinha sido filho temporão. Seu pai já passara dos sessenta anos quando ele nasceu. Com isso tinha abandonado suas armas de guerreiro e agora se sentava na Gerúsia. Era um velhinho de cabelos grisalhos e carnes fracas. Precisava ser amparado sempre que se levantava e sua voz não podia mas ser ouvida a distância. A mãe de Iolau morrera ao dar-lhe a luz, e ele acabou sendo criado por sua tia Alyssa, uma mulher carinhosa e gulosa, enquanto todos os seus irmãos serviam o exército de Esparta. Agora seus irmãos retornavam a sua casa, apenas Etolo ainda dormia na cazerna. E o pequeno Iolau a deixava. Mas ele não queria. Ele gritava pela tia. Implorava que não o levassem. As lágrimas cegavam-lhe os olhos. E apesar das lágrimas também correrem-lhe pela face, nem Alyssa impediu que ele fosse colocado no carro.

Tentou entregar-lhe um manto apenas. Contudo o irmão mais velho de Iolau não permitiu.

- Estas carnes fracas precisam do frio. Ou que ele roube de alguém lá se precisar, neste caso fará bem a inteligência.

E riu alto.

No carro, Iolau chorava. Tentara abraçar o pai, mas fora repudiado. Iolau, seu irmão, apenas guiava o carro. De pé. Ele então se encolheu em um canto, em que o joelho de seu irmão ficava na altura do seu nariz. Ele podia ver as coxas poderosas daquele guerreiro espartano esconderem-se sob a túnica. Também via o caminho que eles tomavam, porém só quando este se distanciava. Com seus olhos marejados Iolau deixou Esparta ficar para trás, viu uma das pontes sobre o rio Eurotas e logo eles chegaram ao campo dos hilotas. Viu as Brisas brincarem com a cevada que estava florescendo e com o trigo do lado direito do campo. Tempos depois, chegaram às campinas que se tornariam o lar do menino durante os próximos treze anos.

O irmão mais velho de Iolau até tentou confortá-lo.

- Veja, pequeno. Teu novo lar não é bonito?

Mas o pequeno Iolau não queria um novo lar. E essa expressão fez com que grossas lágrimas fugissem de seus olhos. Ele gemia. Tentava formular frases de protesto. Pensava que poderia argumentar. Quem sabe existisse outro destino para um menino espartano. Mas quando ele abria a boca apenas soluços escapavam. Empurrado ele desceu do carro. Neste momento os dois corcéis brancos que puxavam o carro relincharam. Iolau então foi invadido pela luz do dia que refletida naquelas verdes campinas ganhava um alegria que aos seus olhos era quase cegante. O irmão mais velho de Iolau respirou fundo absorvendo a vitalidade que pairava naquele ar. Ajudou então ao seu velho pai a descer do carro e Iolau continuou lá. Cercado por aquela imensidão verde. Parado. Assustado. Tremendo. Soluçando.

Logo seu irmão o empurrou para junto dos outros meninos que estavam por ali. Tropeçando, Iolau se juntou aos outros de sua idade. De onde ele estava mal dava para ver Crates se aproximar porque eles se mantiveram atrás para que o velho Ícaro, pai de Iolau, não tivesse que disputar lugar com crianças e com os outros espartanos. Ele precisava ser protegido, então se dirigiram a uma pedra, onde o idoso senhor poderia se recostar. Estavam distantes, mas próximos o suficiente para ouvir o que o general dizia.

- Sejam bem-vindos jovens espartanos. Sejam bem-vindos jovens e futuro de nossa cidade. Tua família e teus cueiros abandonem agora e te unam a cidade que sempre será tua mais graciosa mãe: Esparta!

O irmão de Iolau gritara também: Esparta! Esparta! Junto com todos os outros homens. E mesmo o idoso Ícaro fez um esforço fenomenal para erguer-se e gritar. O irmão mais velho de Iolau novamente o empurrou para juntos das outras crianças. Alguns pais já vinham voltando, alguns desvencilhando seus filhos do manto, mas o irmão mais velho de Iolau observou um jovem menino de cachos dourados que estava de pé diante de Crates, e olhou para seu irmão mais novo que precisava ser empurrado para juntar-se a eles. A vergonha que ele sentiu se tornou óbvia, e ainda mais quando o menino caiu, e antes que seu irmão pudesse voltar, Iolau agarrou seu joelho implorando para não ficar ali.

- Pareces que imploras por misericórdia, menino! Não faça os deuses me castigarem por que imploraste como um penitente, chorando sobre meus joelhos.

E se desvencilhou dos fracos braços de Iolau. Iolau caiu por terra e sujou seu rosto, mas não desistiu. Ergueu-se de súbito e agarrou-se na capa carmim do seu irmão.

- Por favor! Balbuciou.

Seu irmão mais velho só repetiu uma coisa.

- E tu tens o mesmo nome que eu e meu avô?

E puxou sua capa com desprezo. O jovem Iolau caiu então no chão e gritou por seu pai. Pensou que já que o coração do irmão era tão duro, talvez comovesse o próprio pai, mas apenas o viu dar-lhe o braço a seu irmão e cochichar-lhe algo. Ele tentou correr em direção a eles, mas sentiu uma chicotada em suas costas. Ele novamente caiu. As lágrimas transformaram a poeira do seu rosto em lama.

Neste momento ele ouviu, Crátes falando:

- Componham-se espartanos! Sejam dignos de vossos pais!

E ele foi erguido por dois fortes adolescentes de não mais de 18 anos. Ele foi carregado, sem força nas próprias pernas para caminhar e levado até junto das outras crianças, onde largado junto a um outro menino de olhar curioso. Ele olhava para Iolau. E este não tentou limpar o rosto, não sentia vergonha das lágrimas derramadas, mas como uma menina tentou cobrir ao corpo que estava desnudo.

1 comentários:

Eduardo 2:38 PM  

Eu que num queria morar em esparta nesse tempo... se bem que por um lado.. eskece aiuhaiauhiauh

Continue com esa otema história!

Abraços

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