Monday, December 11, 2006

BETA - II

Certamente Iolau era o menino que mais sofria naquele acampamento por estar longe da família. Muitos passaram a sua primeira noite chorando, mas aos poucos os amigos, as brincadeiras, a excitação por se tornar um guerreiro ou o cansaço pelos treinamentos calavam o choro noturno. Mas Iolau continuava a chorar. Todos calaram-se. E ele continuara a chorar. Gemia por Alyssa, sua tia, a quem ele chamava de mãe. Pelo aconchego de seu colo e o calor de seus braços gordos. Gemia pelas canções de ninar que ouvira até a véspera do dia em que o trouxeram para aquela escola.

Sua cabana ficava no centro do acampamento dos Pítus. Era pequena, úmida e escura. Na lista dos Irenai, ele deveria dividi-la com um menino de cabelos castanhos, chamado Calímaco, que, contudo, na primeira noite ainda foi retirado de lá e trocaram por outro menino. Este menino era aquele que ficara diante de Crates, e fora o primeiro a seguir Artemidoro para o acampamento. Iolau não se lembrava dele. Suas lágrimas e seu medo naquela mesma tarde não permitiram que ele gravasse sua fisionomia. O menino não sabia por que fora mudado de sua antiga cabana para aquela outra e chegou conversando isso com Iolau. Ele era simpático. Seus olhos verdes eram encantadores, juntamente com aqueles cachos dourados que caíam sobre seu rosto. Anunciava-se ali uma beleza incomum que ainda estava por brotar, mas que Iolau já notara. Apresentou-se Heleno. Mas Iolau não respondeu. Apenas sorriu um sorriso pálido, virou-se e chorou.

Somente duas semanas depois, por causa de constantes e insistentes tentativas de conversas de Heleno, Iolau teve coragem de dizer-lhe a primeira palavra. Iolau estava sentado, abraçado as próprias pernas, num canto da cabana, quando disse o próprio nome.

- Eu me chamo Iolau.

- Como o companheiro de Herácles?

Iolau confirmou com um meneio de sua cabeça. Seus curtos cabelos castanhos balançaram e ele tentou contê-los com suas mãos magras e brancas. Ele próprio assustara-se como suas mão eram brancas. Heleno ficou parado olhando pra ele, e Iolau então olhou para as mãos de Heleno. Mais fortes. Bronzeadas. Diferentes. Heleno saltou. Iolau se assustou. Mas ele começou a representar as aventuras de Herácles e, às vezes, clamava pela ajuda de seu companheiro Iolau. O jovem e magro menino, com nome de herói, apenas ria, nunca participando dos castelos do seu companheiro, mas foi quando Iolau finalmente riu. Pela primeira vez em muito tempo. Finalmente o acampamento dos Pinheiros ouvira as alegres gargalhadas do jovem Iolau.

Mas ele não estava feliz. Quando o sono pousou suas asas sobre os meninos, e Heleno adormeceu. Iolau se sentiu sozinho de novo. Ele sentiu falta da voz de Alyssa dizendo-lhe: "boa noite, ratinho". Sua mão macia tocando-lhe os cabelos. E suas lágrimas molharam a palha em que ele dormia. E suas carnes tremeram pelo frio de uma noite de primavera espartana.

No outro dia, nas primeiras horas dos dias, os meninos encontraram-se em sua aula de música e dança. Era a aula que Iolau mais gostava. Ele gostava principalmente da cítera, apesar de que aquele não era um instrumento adequado para as aulas que eles tinham. Naquela aula eles deviam aprender música marcial, e também aprender a marchar e comportar-se diante de seus superiores. Em outras palavras, na aula de música e dança eles aprendiam a ficar parados e em silêncio.

Contudo, em raros momentos, eles podiam tocar. E quando Iolau tinha sua chance ele corria a sua cítera, e ali ele conseguia a arma mais poderosa que possuía. Ninguém se atrevia de arrancá-la de Iolau quando ele tocava. Ninguém cometeria tal crime. Se, provavelmente, se atrevesse seria fulminado por um raio do tronissoante Zeus. Seus dedos suaves eram perfeitos para a cítera. Sua voz chorosa se transformava numa voz potente e melodiosa quando de posse daquele instrumento. E como ele conhecia as mais belas canções. As mais belas. Fazia a todos lembrar de casa. Eram as canções que suas mães cantavam para fazê-los dormir. Ninguém se atreveria. Nem mesmo Artemidoro.

Um dia, numa aula de música, todos estavam paralisados pela poesia de Iolau. E, de súbito, Artemidoro chegou à parte do bosque em que o professor de música e dança, Merínes, escutava o seu aluno tocar. Artemidoro teve a intenção de acabar com aquilo, o próprio Iolau percebeu, mas segundos depois ele se encantou por aquele menininho magrelo que cantava como o próprio Apolo.

- Pelos deuses, as Musas o abençoaram, Merínes. Foi o que Artemidoro comentou.

- Alguns o são, meu caro.

- Vejamos então se os dons de Ares também correm em suas veias. Falou Artemidoro afastando-se.

E naquele instante Iolau calou-se. Sua cítera caíra no chão e como todos os poetas que as Musas beijam a fronte ele viu o próprio futuro. Sua luta seria no próximo dia.

1 comentários:

Eduardo 12:11 AM  

Continue a historia!
Estou a espera de qnd eles crescerem... quero sabe oq esse heleno vai aprontar!
Abraços

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